O Instituto de Leitura Quindim entrevistou o premiado ilustrador Alexandre Rampazo, um dos grandes nomes do curso online LABIRINTOS E PEQUENAS VERDADES: O LIVRO, A LEITURA, A LITERATURA E A BIBLIOTECA que acontece no mês de setembro no Instituto.
Confira abaixo como foi esse bate-papo:
ILQ:
Se o leitor abrir essa porta agora vou ficar aqui bem perto do Alexandre Rampazo? Quais são as surpresas que um leitor pode encontrar na sua obra?
Rampazo:
Talvez umas das formas mais fáceis de me acessar, de me conhecer, seja mesmo desvelar meus livros. Eu estou ali, quase total. Minhas aflições, anseios, angústias, choros e felicidades, estão sempre na voz dos meus personagens ou do eixo central das histórias que me disponho a contar. Acho que as surpresas talvez seja que o Alexandre que encontrarão ali, é um Alexandre igual ao leitor.
ILQ:
O que significou para você e sua carreira receber o troféu Monteiro Lobato, da Revista Crescer?
Rampazo:
Os prêmios sempre têm uma régua muito particular. Acho que são um afago, um presente pro premiado, mas não é o que deve nos definir. O Troféu Monteiro Lobato que me foi entregue em 2019, tem um lugar especial aqui na estante, principalmente por ser entregue por pessoas que se debruçam sobre as histórias, as narrativas voltadas para infância. Ser olhado como um fazedor desse gênero literário com respeito, só me faz ter mais respeito pelo o que eu faço e principalmente pra quem eu entrego essas minhas feituras literárias.
ILQ:
Você tem um livro que faz muito sucesso chamado Pinóquio: o livro das pequenas verdades. O Pinóquio é geralmente comparado a um mentiroso. Fale sobre a ideia desse livro e, o Alexandre tem alguma mentirinha de quando era pequenino?
Rampazo:
Esta minha versão de Pinóquio, é realmente um olhar muito particular meu para o personagem. É um Pinóquio com questões existencialistas, com uma inflexão filosófica até.
Acho que o Pinóquio não é uma história sobre uma criança que mente e sim de uma criança que procura o tempo todo se adequar ao que os outros pensam ou esperam que ela seja.
Na minha leitura, o Pinóquio deseja ser um “menino de verdade” para ser aceito. Acho que ele vê dificuldade em estar num lugar se não for no molde dos outros. E ele tem dificuldade em se aceitar pq não quer ser de madeira, não quer ser um boneco, ele quer ser “real”.
E ele se mira sempre nos outros nesta expectativa de tornar-se igual.
Para mim, Pinóquio é muito mais uma história sobre se aceitar.
Também acho que ele está longe, bem longe de ser um mentiroso compulsivo e predatório. A gente se esquece que o Pinóquio era uma criança. Ele era somente uma criança.
Sobre o pequeno Alexandre e das mentirinhas que contornam nossa infância: Eu acessava a biblioteca do bairro onde morava. Deveria estar com uns dez, doze anos… Peguei King Kong e li. Amei o livro. Decidi que ele deveria ser meu e me apropriei dele, não devolvi à biblioteca. Na contracapa do livro escrevi com capricho: “Este livro pertence ao Alexandre Rampazo”. Este livro ficou comigo uma, duas, quatro semanas. Sempre que eu olhava pra ele entre meus pertences, minha consciência pesava. Colei por cima da minha letra escrita na segunda capa do livro, uma folha em branco pra não deixar vestígios daquela minha apropriação indevida. Fui entregar o livro na biblioteca e a bibliotecária olhou pro cartão do livro, olhou pra mim e disse: “Está atrasado um mês”. Eu respondi: “Eu esqueci”. Era mentira.
"Para mim, Pinóquio é muito mais uma história sobre se aceitar. Também acho que ele está longe, bem longe de ser um mentiroso compulsivo e predatório. A gente se esquece que o Pinóquio era uma criança. Ele era somente uma criança." Alexandre Rampazo
ILQ:
Como é a sua relação livro-leitura-paternidade? Você é um mediador de leitura em casa?
Rampazo:
Minhas filhas estão grandes, então este momento é memória. Em casa os livros sempre tiveram um lugar, uma importância, mas revendo, acho que fui um péssimo mediador para as minhas filhas. A Eva, minha esposa, que fazia isso com mais frequência. A minha interação com o lúdico e até com narrativas, se dava de outras formas com as minhas filhas, acredito. Mas "SE" um dia eu for avô, irei consertar isso. É isso que avô faz, né? Ajusta os equívocos que teve com os filhos através dos netos. Eu tenho um plano.
Bate-Bola
Livro?
Prosa adulta: “A invenção de Morel” – Adolfo Bioy Casares
Livro ilustrado: “Le petit chaperon rouge” – Warja Lavater
Família? Rede de apoio.
Pincel? Velho pra tintas novas.
Dia de sol? Crianças despreocupadas numa tarde de verão.
Dia nublado? Esperando o sol nascer.
Humanidade? Vestir-se do outro
Imunidade? Estar no abraço dos meus iguais.
Frase? A literatura é uma das formas mais legítimas de construção de empatia.
Venha conhecer mais sobre o Alexandre Rampazo no curso online: LABIRINTOS E PEQUENAS VERDADES: O LIVRO, A LEITURA, A LITERATURA E A BIBLIOTECA
Além de Alexandre Rampazo, o curso contará com a participação de grandes nomes da literatura como a professora e bibliotecária Maria das Graças Castro, o ilustrador Roger Mello e o presidente do Instituto Quindim, Volnei Canônica.
Conteúdo:
15/09 - A LEITURA E O LEITOR
Ministrante: Maria das Graças Castro e Volnei Canônica
17/09 - O LIVRO, A ARTE E A LITERATURA PARA A INFÂNCIAS
Ministrante: Roger Mello
22/09 - O LIVRO ILUSTRADO E PROCESSOS CRIATIVOS
Ministrante: Alexandre Rampazo
24/09 - A LITERATURA E A BIBLIOTECA
Ministrante: Maria das Graças Castro e Volnei Canônica
Horário:
19h às 21h
Alexandre Rampazo é formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. É ilustrador e também autor de livros infantis. Durante muito tempo atuou como diretor de arte para publicidade, desenvolveu capas de livros e projetos editoriais. Desde 2007 começou a se dedicar integralmente à ilustração e à literatura infantil. Entre suas obras estão: A cor de Coraline; A princesa e o pescador de nuvens; Me encontre no sexto andar e A Menina e o Vestido de Sonhos.
Confira aqui o seu site pessoal.
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