Entrevistamos a escritora Penélope Martins, que estará ministrando o curso online MEDIAÇÃO EM LEITURA LITERÁRIA: UMA CONVERSA SOBRE DIREITOS HUMANOS pelo Instituto de Leitura Quindim (ILQ) no mês de setembro. Confira abaixo como foi esse bate-papo.
ILQ:
Aproveitando umas das perguntas mais filosóficas “Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?”, queremos saber como tudo começou. O que chegou antes? A narração de histórias, a advocacia, a escrita, a feminista?
Penélope: Para responder com a mesma abrangência da gema, acho que antes de tudo nasceu a criança, e isso, recuperando o sermão de Zaratustra obra que eu gosto muito do Bigodón (também conhecido por Nietzsche), é o movimento em si, a possibilidade de fazer algo novo. Enquanto advogada, mulher, feminista, mãe, escritora, narradora, cozinheira para amigos e tantas outras funcionalidades orquestradas na minha vida, tento me manter uma criança em aprendizado constante, uma caminhante que olha para a estrada como descoberta, alguém que assume o risco de errar como a própria viabilidade de existir.
ILQ:
A frase “Nenhum direito a menos” mostra que tem muitos direitos que não estão
garantidos. Quais são os direitos que você acredita ser base e pode ajudar a sociedade a buscar a garantia dos outros direitos?
Penélope:
Creio que temos muito a aprender sobre direito e linguagem em sintonia. Nenhum direito a menos é uma frase de impacto para a defesa de direitos fundamentais que são suprimidos para a maioria da população. Todavia, o direito à propriedade também é um direito, mas muitas vezes ele é exercido esmagando direitos fundamentais de muitas e muitas vidas. A base, talvez, seja recorrer ao princípio que norteia os direitos humanos: dignidade da pessoa humana. Nenhuma empresa é mais importante do que as vidas que ela impacta com a destruição do meio ambiente, por exemplo; nenhuma propriedade inoperante pode ser defendida se sobrepondo ao direito de moradia e de produção da terra, inclusive para garantir sobrevivência, que as pessoas têm.
"Eu acredito na virtude da justiça antes de um poder judiciário, e no Estado Democrático de Direito como busca para alcançar a justiça." Penélope Martins
ILQ: Você ganhou o Prêmio Fundação Biblioteca Nacional de Literatura para Jovens com a obra “Minha vida não é cor-de-rosa. Uma obra bem sensível. Como surgiu essa ideia e qual a importância dela para os leitores?
Penélope:
Sempre começo uma resposta como essa dando graças à amizade porque foi meu editor e amigo, Gil Vieira Salles, quem me telefonou um dia e pediu que eu escrevesse um romance feminista para meninas e meninos. É necessário reforçar que livro é isso, tem muita gente resistente e resiliente para que ele aconteça, muita gente generosa e comprometida com o esclarecimento. Pessoalmente, escrever Minha vida não é cor-de-rosa se deu a partir da recomposição de memórias da minha própria história, fatos que se misturaram com outras
tantas memórias que me foram relatadas por todos os tipos de pessoas e nas quais eu também identificava alguma forma de opressão, uma ruptura violenta por imposição injusta. Acredito que essa honestidade da literatura pode servir de cura para uma pessoa, individualmente, como para a coletividade na medida que a leitura se reflete em novas atitudes. Por isso é importante termos um Prêmio como o da Biblioteca Nacional, uma honra recebê-lo, aliás, mas confesso que saber de histórias de leitoras e leitores que se sentiram acolhidos pelo livro é o tipo de reconhecimento de uma grandeza incomensurável.
ILQ:
De que maneira você acha que a literatura pode ajudar a entender os direitos humanos e fortalecer a sociedade para reivindicá-los?
Penélope:
Sem dúvida a literatura, como qualquer forma de expressão artística, nasce conectada com o contexto que vive o artista, portanto, aquele outro clichê da arte inspirar a vida ou o contrário não é mentiroso. Isso ressalta também um aspecto interessante, a obra não está apartada de quem a cria. Ler é uma forma de buscar conhecimento e autonomia nesse processo de se esclarecer. Quanto mais conhecimento apreendido, mais vocabulário articulado, mais benefício para a ação. No entanto, eu já conheci muita gente que ostenta milhares de títulos lidos e que não melhora em nada suas atitudes, assim como fui criada por gente não-leitora que sempre defendeu honestidade e justiça social. Acho que o tempero está na generosidade, aprender a ler e querer compartilhar.
Bate-Bola
Uma boa história é? Alimento!
Humanidade? Feita para “brilhar, não pra morrer de fome”.
Censura? Paradoxo, admito censurar a boca de quem elogia a tortura.
Brasil? Coragem.
Frase do momento? Vidas negras importam.
Venha conhecer mais sobre a Penélope Martins no curso online: MEDIAÇÃO EM LEITURA LITERÁRIA: UMA CONVERSA SOBRE DIREITOS HUMANOS
Quando:
09, 16, 23 e 30 de setembro, das 19h às 21h
Conteúdo:
- Elementos essenciais para esclarecer e compreender as relações sociais;
- Conexão entre cidadania e legislação;
- Conhecimentos básicos de normas constitucionais e legislações que constroem educação capaz de pleitear e defender direitos;
- O direito de ler e o direito de escrever: ferramentas para cidadania ativa e contestadora.
Penélope Martins é escritora, advogada e narradora de histórias. Idealizadora do blog Toda Hora Tem História, ministra oficinas de mediação de leitura e de escrita criativa. Entre suas obras estão: Minha vida não é cor-de-rosa; A incrível história do menino que não queria cortar o cabelo; Poemas do jardim; Aventuras de Pinóquio; Bulhufas, Bugalhos Bizarros; Quintalzinho, e outras mais.
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