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Ronaldo Bueno

MARINA COLASANTI: “Contos de fadas foram traídos três vezes"

Atualizado: 4 de fev. de 2021


Autora afirma que contos de fadas foram traídos aberta e subliminarmente. Crédito: Divulgação

“Os contos de fadas foram traídos abertamente três vezes”. A afirmação, que pode parecer ousada à primeira vista, é da premiada escritora Marina Colasanti, que apresenta nesta quinta-feira (24) a conferência inédita no Brasil “Três vezes traídos: os contos de fadas mantêm seu poder”. O evento é aberto ao público, começa às 19h30 e será transmitido nas redes sociais do Instituto Quindim e no canal da Universidade de Caxias do Sul no YouTube.


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Conforme a autora, a primeira traição foi em 1762, por Jean-Jacques Rousseau. Em seu Emílio ou Da Educação, o filósofo francês recomendou a expulsão dos contos de fadas do cardápio educacional. Ele acreditava que esse tipo de história acendia a imaginação já aguçada das crianças e que não era saudável deixá-las entregues à fantasia e às emoções.


A segunda traição ocorreu nos anos 1970, duplamente. Foi quando a crítica marxista passou a questionar a validade dos contos de fadas, colocando em dúvida sua origem popular depois de tantas releituras para se adaptar ao mundo que se modernizava. Dessa forma, as histórias fantásticas foram consideradas alienantes e as editoras optaram por livros que, em vez de histórias de bruxas e seres mágicos, falavam da realidade.


Na mesma década, o feminismo em ascensão passou a criticar a modelo feminina da maioria dos contos de fadas: a donzela meiga, submissa e que sonhava com a chegada do príncipe encantado em seu cavalo branco. No entanto, segundo Marina, o escritor Italo Calvino (1923-1985) nos lembra que Agatuzza Messia, costureira de colchões e principal fonte do folclorista Giuseppe Pitrè (1841-1916) preferia contar histórias com personagens femininas determinadas e ativas.


“Foi precisamente no início dos anos 1970 que iniciei cerca de 20 anos de intensa atividade feminista, como jornalista, autora e conferencista. Até participei por quatro anos do primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nunca considerei que uma coisa fosse incompatível com a outra”, diz Marina Colasanti.

A terceira traição, por sua vez, está em curso e pertence aos nossos dias. Ela é protagonizada pelo cinema, que tem usado como isca narrativas amplamente fixadas no imaginário popular para depois traí-las, inserindo significados muito diferentes daqueles transmitidos originalmente.


Na palestra, a autora também discorre sobre as traições subliminares sofridas pelos contos de fadas. São os casos de Charles Perrault (1628-1703), que adicionou aos Contos da Mãe Ganso uma moral explícita e superficial, e dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, que se voltaram para o caráter educacional das histórias, alterando personagens, amenizando o mal existente nos contos populares e enfatizando a moral e os valores burgueses.


“Três vezes traídos: os contos de fadas mantêm seu poder” integra a programação da “Especialização em Literatura Infantil e Juvenil: da Composição à Educação Literária”, que segue com inscrições abertas até 30 de setembro, no site da UCS.


SERVIÇO DO CURSO

  • Data de início: 5 de outubro de 2020

  • Modalidade: EaD

  • Carga horária: 360 horas

  • Inscrições: clique aqui


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